Oblóquio

Substantivo masculino Palavra que contesta, reprova ou injuria fortemente; contradição, insulto Inerente a todos nós, contradições, insultos, presságios, vontades, amores, ódio, sentimentos e mais sentimentos explicáveis ou não, existentes. Explicitamos assim dos mais superficiais aos mais cerrados em nosso interior nessa página, desabafo ou não, é o que vemos, é o que sentimos. Sinta-se a vontade para se identificar.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Era uma vez...

Sempre tão descompromissada de ser amada, assim sem ciúme ou vontade de um “era uma vez...” ou “foram felizes para sempre...”, tão assim sem reticências... Era ela.

Ela que quando inundada de sentimentos ou pensamentos os derramava sob uma folha de papel qualquer, rasurada ou não, mas sempre e sempre seria uma parte dela, uma parte da alma dela que estava grafada naquele pequeno pedaço de vida.

Já escreveu sobre tristezas, desapegos, paixões, medos, vontades, receios, mas nada como o que passava por sua mente agora.

Chegou num ponto onde o cinza do céu não a deixou ver nada além do próprio medo de ser sozinha, o que sempre foi. As nuvens deixaram transparecer aquele antigo e enrustido medo que ela tinha, coisa que ela jamais diria.

Quando olhou as lágrimas das nuvens, que viam seu medo, escorrerem pela janela, foi como se seu coração também chorasse, foi como se ela sentisse por um momento tudo que estava escondido em sua alma, uma ferida que nem ela sabia que tinha.

Pensou-se só daqui alguns anos, sem amores, mas com muitos amantes, sem filhos, mas mesmo assim com muitas contas para pagar. Sentiu-se incompleta, desfeita, desajeitada, sem qualquer pudor de ser ela mesma.

Viu-se trabalhando muito, com uma bolsa lindíssima, com sua agenda lotada, nos dias de semana muito trabalho, e nos fins de semana, ah sim, muitas “sociais”.

Percebeu então que tinha muitos amigos, mas que nenhum deles a faria tão completa do que aquele que ela queria para poder sonhar. Ela só queria alguém que a fizesse querer viver um conto de fadas, ela que já era tão machucada, mesmo sendo tão nova...

Um dia, ela pode ver também, ia aparecer alguém, esse mesmo alguém que acabo de descrever. Mas ele estava muito ferido, seu coração feriu-se de tal forma que não sabia se poderia dizer algum dia “essa é a mulher da minha vida”, e a única coisa que ela precisava ouvir naquele momento era isso, mesmo que fosse sem certeza, mas que fosse uma vontade, uma vontade tão grande que não coubesse nele mesmo. Mas o coração dele tinha sido ferido, cortado, amassado, jogado e agora ele não acreditava mais em nada. Uma boa companhia, noites, dias, apresentações, alguma emoção... mas nada de sonhos e nem planos, nada de impulsividade ou passividade.

Agora que ela se viu sozinha e com todo um futuro garantido financeiramente, ela queria mais que isso, ela não queria mais do que uma menininha sonhadora e provinciana. O que ela queria era amar e ser amada assim como quem ela já amou e quem ele já amara.

Fosse de dia ou de noite, se precisasse desmarcar compromissos ou viver na responsabilidade, mas ela queria, agora, um pouco de loucura no seu dia a dia. Ela queria poder fingir que era pra sempre, ela só queria poder sentir um pouco mais do que o cérebro permite, para isso ela precisaria da ajuda dele, ele teria que ir junto nessa viagem.

Ela viu-se animada então, quando pegou um pedaço de papel perfumado que estava em uma agenda antiga, lembrou-se do que lhe foi dito quando ganhou aquele papel. “Para quando sentir saudades de mim, um pouco do meu cheiro...” Sentiu-se amparada por uma lembrança de um dia qualquer de alguém que nem foi tão importante assim, mas agora se fazia vital para ela.

Nesse momento ela percebeu que precisava de algo mais, precisava de novos papeis cheirosos, precisava de outras palavras mal pensadas... Ela queria paixão, uma paixão completa, não queria mais uma meia boca, e sim alguém que estivesse por inteiro, de corpo e alma do seu lado, alguém que não está lá pensando no dia que ela não será mais o seu amorzinho, ela só queria um sonho romântico. Uma brincadeira de amor eterno...

Olhou lá fora mais uma vez, um carro que lhe era familiar parou, com toda aquela chuva ela não conseguiu identificar quem estava dentro dele. Inclinou-se para frente para tentar enxergar, a pessoa saiu do carro e tocou a campainha.

Era ele, um homem, pouco mais alto que ela, com um sorriso marcante, a roupa não permite que continue a descrição, ela o cobria por inteiro, e o chapéu lhe cobria toda a cabeça, o que me limita nisso.

Ela ficou desconfiada, ora quem pode querer alguma coisa comigo a essa hora, com essa chuva? Quem será ele? Mesmo assim algo que soou familiar, e resolveu abrir a porta. Pois então abriu.

- Boa tarde querida.- Ele disse, colocando o guarda-chuva no canto da casa e entrando tirando o casaco.

- Mas quem é você? – Ela começou a ficar irritada com a situação, sentiu-se quase que violentada com toda a ousaria do homem.

- Não reconhece mais o seu marido não?

- Está louco? Não sou casada.

- Ai meu Deus, mais uma das crises – disse o homem impaciente, mas com uma cara de “isso sempre acontece” – Não é casada? Então o que faz com essa aliança dourada no dedo? Porque tem uma foto sua vestida de noiva na sua penteadeira? E porque eu entrei com tanta intimidade na casa te chamando de querida?

Ela começou a ficar assustada, olhou a mão, a aliança estava lá. Entrou no quarto, olhou a penteadeira, a foto estava lá também, e o homem... o homem tinha intimidade de mais para um estranho. Sentou-se com um ar de inconformismo na poltrona, pôs as mãos na cabeça, fechou os olhos e respirou longamente. Olhou suas mãos novamente, elas já não eram tão novas como tinha em mente, olhou-se no espelho, seu rosto estava envelhecido, procurou sua mãe pela casa e deu-se conta que ela já não estava lá fazia tempo. Tentou lembrar-se dos últimos acontecimentos, vieram flashs em sua mente, seu casamento, seus filhos... Viu-se casada, com um emprego não tão bom quanto queria, com um homem, aquele que ela pensara que jamais falaria você é a mulher da minha vida com os filhos que ela não queria ter e que hoje a faziam tão feliz, sentiu-se então completa. Mergulhou no seu intimo e trouxe-se para mais próxima de si, agora ela não sonhava mais, ela vivia um conto de fadas...

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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Singularidade social

Quem é este ? quem é este ?
que falas por mim ?
eu aceitei ...
mas nem respondi !

Olho no espelho e não vejo meu rosto
Ligo a TV ,e vejo clones de mim
Olho para os lados e me vejo em todos
Todos são tão parecidos assim...

Não tenho nome
Mas poderia me chamar "todos"
ou todos se chamarem de "mim"

Não tenho gosto ou desgosto
Gosto de todos
e todos gostam de mim...

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Carta de despejo

Hoje escrevo-te com saudades e novos planos. Que mesmo com o coração carregado de afeto, liberta-se pouco a pouco, assim que possível. Venho por meio desta, sem risos ou brincadeiras dessa vez, comunicar-lhe a ordem de despejo expressa por mim, para que desalojes meu peito e mente, a placa de aluga-se em breve será pendurada, e como não pagastes a parcela da residência no tempo certo, terei de desalojá-lo.
É com pesar que comunico-lhe essa formalidade, mas é bom ir rápido pois existem outros inquilinos interessados. Não, não está â venda, e sim para alugar, esse investimento é mais rentável, fora que posso despejar o inquilino caso não cumpra com o contrato, assim como você.
Tenho que admitir que gostava muito de te ter como dono da residência, mas resolvestes comprar outra casa, e a parcela desta, esquecestes de pagar, infeliz fato, mas fato.
Reforço a urgência do desalojamento, é preciso, negócios são negócios. Espero que deixe em condições de uso, assim como encontrou; uma rachadura aqui, outra ali, resquícios de “donos” anteriores, nada que um reboco e uma nova pintura não resolvam. Por favor, apare o jardim para que o novo inquilino possa chegar a porta, limpe as janelas pra que outros passam achar a residência agradável, e por favor devolva as chaves, terei de trocar as fechaduras novamente.
Talvez o próximo inquilino seja chaveiro, me poupa uma despesa.
E quem sabe, quando resolveres, se resolveres, voltar à abrigar essa residência, tão aconchegante, ela não esteja desocupada? E talvez você ainda seja dono da chave mestra.
Foi bom fazer negócios contigo.
Dona da residência.

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